9 de setembro de 2010

Dear Julie III

Não era um dia quente como deveria ser uma tarde de setembro, assim como não era uma tarde fria como deveria ser a solidão de tarde sem ninguém. Era um dia nú.
Nú sem cores e texturas, era apenas um dia desses que se repetiam corriqueiramente na vida de Julie.
Ela se sentia triste. Não por algo que lhe acontecera, tão pouco por alguém. Sentia-se entristecida consigo mesma por carregar um sentimento tão horrível por alguém que deveria despertar-lhe uma franca ternura e uma vontade de abraçar. Queria abraçar, mas de um jeito estranho sabia que seu abraço não seria bem-vindo.
Lutava com toda a força que possuía contra o que lhe apertava o peito, em vão.
Sabia que era inrreversível, e era isso que fazia com que se sentisse tão má e culpada.
Culpa. Está é a palavra, o sentimento.
Sentia-se culpada pelos sentimentos maus que cultivava, sem se dar conta de que não podia controla-los.

21 de julho de 2010

Dear Julie II

Num dia de chuvas, desses em que a gente acorda primeiro que o despertador e fica torcendo pra que ele demore pra tocar, mas mesmo assim não prega os olhos... Num dia assim ela olhava através da fresta do cobertor que abrira para que o ar fresco entrasse e ela não se sentisse sufocada pelo calor das cobertas.
Ela queria um motivo, um só motivo para levantar da cama e sair de casa.
Procurava e procurava... Nas lembranças do passado, no calor do dia-a-dia, nos detalhes do ultimo livro, mas nada lhe vinha a mente.
Sentia-se triste e não tinha um motivo. Queria encontra-lo.
Pensou nas pobres crianças afegãs que tanto sofriam por causa da guerra, pensou nas crianças brasileiras com fome, sem nome e sem educação... Pensou nas tristezas todas do mundo, mas muito embora se sentisse tocada por todas aquelas coisas, não era isso que a entristecia...
Desligou o despertador e decidiu dormir naquele dia, não ligaria para o trabalho, ninguém sentiria a sua falta.
Tentou em vão voltar ao sonho que tivera antes de acordar, e descobriu então o que lhe deixava tão angustiada, era a falta.
A falta de algo que ela jamais teve.

20 de julho de 2010

Moça

É tão pequena a moça...
Tão pequena que os olhos se apertam pra ver os seus detalhes.

Tão linda a moça...
Tão linda que a imagem não combina com as coisas ao redor...
Nem com a lua la do alto, nem com a conchinha la embaixo.

É tão doce a moça...
Tão doce que os os dentes doem, e a testa franze quando ouvem a vozinha da moça.

É tão mundo a moça...
Mundo que gira ao redor do tudo, que dança ao redor do nada...
Moça danada!

A moça nasceu no tempo errado!
Coitada!
Não era pra ser a dona de meus versos, era pra dona dos versos de bambas, de sambas e bossas.

Moça, moça, moça!
Que é Nathalia, mas podia muito bem ser Sophia!

3 de junho de 2010

De mim

Não sei se é peixe,
se nada, se molha.
Não sei se é água,
se pinga, se mata.

A sede.

Não sei se cede,
se permite, se cabe.
Não sei se abre,
se fecha, se bebe.

A água.

Não sei se anda,
se ronda, se vai.
Não sei se fica,
se rompe, se pinta.

Com tinta.

Não sei de cor,
de tamanho, de matéria.
Não sei do desenho,
da pequenez, da imensidão.

De mim.