23 de fevereiro de 2008

Crença minha

Todo mundo tem no mundo
um mundo de opções.
Todo ser opta alguma vez
em ser o ser que não é;
e em algum momento
descobre que o momento já não é.

Os sentidos já não sentem
que sentir não é mais
suficiente.
É preciso ver além,
ouvir também,
tocar um bem,
cheirar o bem.

Os valores, já não tem valor.
Os temores, já não temem-se.
As dores, já não doem.
Nada, já não é ausência.
Tudo, já não é totalidade.
Mas fadas ainda voam.

Eu acredito nisso.

4 de fevereiro de 2008

Em

Eu vejo um trilho
de trem;
ouço um som
que sem
nenhuma musicalidade
me mantei inerti.

Eu sinto um
arrepio que vem
de um dizer
que vai além
do que eu possa
entender.

Eu me ligo a
uma energia zen
A uma forma de
existir de bem
com o universo
que sem-pre
me convém.

Entre linhas

Eu não vim aqui
pra pedir ou implorar;
Vim pra sentir
e quem sabe explicar.

Aquele tempo que se foi
não deixou frases
pra depois
Aquela historia que passou
Deixou lembranças de
nós dois.

E se ainda quer saber
eu não penso em outra
coisa, que não
me leve a você.

E esse tempo de agora
Não vai te guardar
Numa parte da memoria;
Te manterá para sempre
vivo em minha historia.

Repente

Eu não seria muito mais
Do que queria.
Não teria muito mais
Do que desejo.

Não sou muito coerente,
Não me prendo a correntes.
Livro-me nas correntes,
De vento.
Que me sopram pra qualquer
Direção.
No impulso, no movimento
Me deixo levar.
No medo de cair, um soluço.
De repente.

Repentista de mim mesma.

Sorria

Sorria, sorria, sorria
Dizia o cartão, como que em
Passes mágicos, o sorriso da garotinha
Induzia, a qualquer um.

Um sorriso talvez,
Uma angustia em solidez,
E uma lágrima a tira-colo.

Um poema sem porque,
Um porque sem sentido.
Não sabemos muito bem
O que nos mantém vivos.

Uma palavra sem motivo,
Um sentimento induzido,
Nunca o soube da rosa dos ventos,
Nunca tive um único sentido.

Norte, Sul, Leste, Oeste,
Nas pontas da estrela.
Na estrela a ponta,
Que aponta por algum motivo,
Mais um destino que não encontra
Sentido.

Essência

Não sou nenhum modelo de certeza,
Não tenho em meu nome a maestria
Da beleza.
Tenho cravadas em pinhas palmas,
Marcas, fora de série.
Tenho apagadas, como que em magia
Outroras de minhas almas.

Nunca tive a confiança do inteiro,
Nunca tive metade de qualquer coisa.
Desconheço a forma do alheio,
Não saberia descreve-lo.
O que conheço não me basta,
O que desejo não permanece,
Minha inconstância não me supre,
Minha fé, não me abastece.

Minhas ideias não são lúcidas,
Minha lucidez não me mantém,
Minha permanência não convém,
E eu nem sei se há no mundo
Um outro alguém.



Magda Nagasawa