29 de julho de 2008

Muralha



Talvez eu não devesse pensar tantas vezes em pensar, e tantas outras em sentir.
Talvez eu não pudesse, talvez.
Foram tantas as pedrinhas recolhidas, umas vezes coloridas e sonoras. Outras tantas solidas e inaudiveis.
Uma a uma foram organizadas, colocadas estrategicamente umas sobre as outras, encaixando-se tão perfeitamente que chega-se a pensar que foram recortadas para melhor resultado.Aos poucos uma pequena parede foi erguida, e com o passar do tempo não se via do outro lado um único sinal de existência.
Preferi subir sob as pontas dos pés e dali observar o mundo a girar. As horas não paravam, e os mesmos pés doíam e já se cansavam da posição incomoda. Deixaram-se encontrar o chão, e sem que pudesse controlar eu já não via nada.
Protegida eu estaria ali, das coisas feias que eu vi pelo murinho.
E enclausurada também.
Não poderia ver a claridade que o Sol traria pelas manhãs, e tão pouco veria os raios que, provavelmente, cortariam os céus durante as tempestades de verão.
Por longos momentos preferi assim, acomodei-me a sombra da muralha e adormeci.

Algumas pedrinhas se soltaram por causa dos ventos que passaram e não foram ouvidos, muito menos sentidos.
Uma claridade tão serena se fez entrar, acordei. E quando olhei pela ausência de pedras tudo estava tão diferente. (s u s t o)
Ainda forço algumas outras pedras pra abrir um espaço maior.


21 de julho de 2008

l i b e r t a



E hoje é finalmente o dia, hoje assino e decreto a minha alforria.
Hoje me liberto de tudo aquilo que me manteve presa a todas aquelas coisas velhas que eu sismo em manter dentro do velho baú.
Hoje eu finalmente entendo e compreendo o que realmente sou, o que plenamente quero e o que por tanto tempo, sem entender, espero.
Não posso me definir.
Não posso 'nos' definir. Sou muitas! (s u s t o) Sou uma única e peculiar peça projetada escondendo as mais diversas formas e cores dentro de si só.
Posso ser o que eu quiser, no momento que me aprouver e eu achar direito. Posso lançar-me a qualquer momento em meus delírios, e no mesmo instante estar tranquilamente presa a minha realidade.
Posso diferir-me de todos os outros, e quase que simultaneamente ser o mais banal dos seres.
Posso sentir amor, ódio, quaisquer coisa ao mesmo tempo. Sem necessariamente ter que me rotular e subdividir em classes e denominações daquilo que sinto.

Posso, sim eu posso.

E só eu sei, sei mesmo, o quanto, eu tive que digerir pra entender e sublimar a liberdade que eu sempre quis prender.
Sou hoje liberta e desprendida.
Temente e temida.

Sou, incontestavelmente, Senhora da minha vida.


Laço.


Abraço, laço,
cria;
recria esse espaço.

Abre, abra,
domina;
expulsa o fracasso.
Fala, fale,
desarme;
arme aquele passo.
Conte, cante,
canto;
defina o traço.
Encha, preencha,
complete;
transborde o escasso.

20 de julho de 2008

Deixa!







Deixa-me ser menina;
deixa-me ninar
os medos.

Balançar.
Deixa o balanço
levar.
Deixa o corpo acompanhar.
Deixa o sentimento guiar.

Deixa!

Deixa essa marra;
deixa essa mascara;
se amarra!

Sinta a energia!

Deixa o sol iluminar;
deixa esse céu anunciar.

Deixa, deixa eu estar!

Posso




Que eu seja dessa vez
l i v r e.
Que me seja dado;
me seja designado;
me seja esperado.

Que os meus pés
se desprendam sem pudor;
que eu vá;
que eu fique;
que eu esteja.

Que a plenitude
me seja entregue;
me seja acorrentada;
me seja.

Que eu seja.
Seja o que quiser ser.

Posso ser tantas;
posso ser uma;
posso ser outra.

Posso ser essa;
aquela; quaisquer.

Posso ser daquele;
dele; de outro.
Posso ser.
Mas serei sempre
o que me vier;
o que me disser;
o que me quiser.

Serei sempre.
Minha.

Asas.


Fiz-me durante
noites inteiras
larva.


Criei-me por
vezes interminaveis
casulo; casa.


Permito-me nascer,
romper.
Hoje, sou asas.

Preciso

O eu que me bastava
por motivo qualquer
bastando já não esta.



Creio que a casca
que protegia
já enclausura.

Prende.

É preciso um
casulo maior.
Um em que caibam
todas as toadas;
paixões, flores e lampiões.


Uma que mantenha acesa
a luz da inspiração.
Que estagne a força de opressão.



Que permita-me estar
em lá.
Que permita-se romper-se
cá.


É preciso romper os elos.
Abandonar os proprios egos.

Eco, eco, eco.



Nada é preciso.

Salto.


Do alto de meus medos
Posso ver e além do
que meus olhos permitem.

Posso sentir além
do que me permito.
Sempre foi eu quem
controlou os passos.
Mito.

Sempre fui eu.
Deixa me saltar;
num rodopio silencioso.
Deixa me criar espaços;
fugir dos passos;
manter compassos.
De-me a liberdade;
de-me a coragem,
a força, a iniquidade.

De-me o direito;
de-me o oposto,
o avesso, o inteiro e o
exposto.

De-me a emoção,
as notas, a música
e percussão.
De-me.
Dai-me.

Darei-me, em salto.

15 de julho de 2008

Nossos copos

Num banco de praça discutindo
Visões do nosso mundo paralelo
Nem parece, faz tanto tempo,
A gente sempre sonhou ser eterno
Eu falo de casos e acasos
E você insiste em romper nossos elos

Nossos elos...
São gotas dum copo com água
Pela metade e como você vê?
Meu copo é metade cheio
Seu copo é metade vazio, por quê?

Meus sonhos são sempre malucos
Os seus são tão pesadelo...
Minha estrada é macia e segura
A sua tem pedras, sombra e chuva
Eu falo de desenho em nuvens
E você se agarra ao papel...
Nossos copos são tão diferentes.
Tão diferentes...

E eu quero fingir que não dá
Mas cada vez que você sorri
Eu quero quebrar nossos copos
Lançar nossa água ao mar
Pedir para as ondas levarem
Todo resto de amargura que há
E então... Seremos uma água só.

Nossos elos...
São gotas dum copo com água
Pela metade e como você vê?
Meu copo é metade cheio,
Seu copo é sempre metade vazio, por quê?
Meu copo é metade cheio,
Seu copo é metade vazio, por quê?
Meu copo é metade cheio,
Seu copo é vazio, por quê?

* Magda Nagasawa, Marina Cruz e Marisa Freitas